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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

Cringe
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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Nas últimas semanas, tem surgido um debate, bastante "démodé" diga-se de passagem, sobre o termo "cringe". O termo cringe é usado para demarcar uma geração "mais velha" pelos atuais jovens, no qual tomar café, por exemplo, é um indicativo que a pessoa é "cringe". Embora o debate seja novo, a construção de rótulos de uma geração sobre as demais é algo bastante antigo. Em algumas passagens de Platão, que viveu de 370 a.C. até 427 a.C., existem registros de conflitos e críticas de uma geração sobre a outra, em geral, de forma não muito amistosa. As críticas e conflitos estão relacionados à forma como cada geração se comporta, a qual é dada pelos elementos sociais e tecnológicos que interferem nas concepções de mundo em cada período histórico.

CONFLITOS GERACIONAIS

Um autor emblemático na sociologia que trata justamente sobre conflitos geracionais é o alemão Norbert Elias. Ele busca avaliar as disputas de poder que decorrem dos conflitos geracionais. Como cada geração apresenta formas diferentes de encarar o mundo, é natural o conflito. As gerações mais antigas, já estabelecidas na economia e que dominam as contratações e postos de trabalho, ditam suas regras sobre a geração mais nova, que busca oportunidades no universo econômico. Como, no geral, as gerações mais novas precisam se "moldar" às regras pré-estabelecidas pela geração a qual eles não pertencem, os rótulos são construídos.

O rótulo "cringe" é destinado ao público acima dos 25 anos, que segundo os atuais adolescentes, fazem as pessoas passarem vergonha. Seja pelos hábitos de vestimenta, alimentação, forma de utilização das redes sociais. "Cringe" são pessoas que estariam desconectadas da forma de agir dos atuais adolescentes. A estranheza sobre o modo de agir adulto pelos adolescentes é, em suma, a fonte de estranheza e produção de rótulos.

COMPREENSÃO MILITAR

Toda geração, devido ao modo de vida, tecnologias e elementos culturais ao qual tem acesso, se torna diferente. E o termo "diferença" é, justamente, o principal elemento de destaque geracional. A atual geração de jovens, que é rotulada de "geração Z", tem habilidades diferentes das outras gerações. Ao mesmo tempo em que ganham em interatividade, capacidade de busca e habilidade em redes sociais, é uma geração, em média, menos focada. Isso marca uma diferença, a qual tem potencialidades e dificuldades de agir no mundo, como qualquer geração apresentou em outros momentos. O que presenciamos no atual contexto é apenas mais um conflito geracional, cujo resultado é a produção de rótulos e alguns memes. 

A agonia de uma escola
Rogério Koff
Professor universitário

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Um exemplo de descaso das autoridades constituídas e do desprezo pelos processos educacionais e assistenciais é da Escola Antônio Francisco Lisboa, em Santa Maria. A escola atende 211 pessoas com deficiências físicas, mentais, múltiplas deficiências, síndromes do espectro de autismo e problemas psíquicos e emocionais. A instituição oferece serviços especializados de Assistência Social, Educação Especial, Psicologia, Orientação Educacional, Educação Social e Educação Física, dentre outros. A escola atua na comunidade há 67 anos.

Os convênios e termos de fomento que sustentam a instituição não têm seus valores reajustados há cerca de 15 anos. É cada vez menos provável que consiga manter o pagamento de seus profissionais e fazer a manutenção do seu prédio. A máquina municipal também dificulta os procedimentos por excesso de burocracia. O dinheiro provém do governo federal e é repassado pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Município. Agora, a secretaria alega que as verbas não têm destinação específica para este tipo de instituição filantrópica sem fins lucrativos. Por conta disso, temos profissionais valorosos com salários atrasados. Não seria exagero afirmar que a instituição pode ser obrigada a fechar suas portas. Trata-se de uma omissão imperdoável.

Empresários e pessoas físicas da cidade também poderiam colaborar. É fundamental entender que pessoas com deficiência não são doentes. Não há, portanto, uma "cura" para essa condição. Por isso, elas necessitam de atendimento permanente.

Como se não bastasse, ainda que a escola esteja localizada quase em frente ao comando da Brigada Militar de Santa Maria, acabou sendo vítima de diversos arrombamentos. Materiais eletrônicos, como computadores, televisores e aparelhos de DVD, dentre outros, foram roubados. Não satisfeitos, os ladrões voltaram diversas vezes e levaram até panos de prato, botijões de gás e utensílios de cozinha. Fizeram festa e lancharam dentro do espaço da escola.

MENOSPREZO

O fato é que pessoas com deficiência ainda são menosprezadas pelos poderes constituídos. A escola recebe doações de alimentos por conta de voluntários, mas carece de recursos mínimos para pagar seus profissionais.

É um descaso total. O que o leitor pensa disso? Uma instituição de valor e que presta serviços fundamentais relacionados ao interesse público acaba vivendo de mendicância? Teremos 211 pessoas sem atendimento e diversos profissionais sem emprego? São essas as nossas políticas sociais? Nossos governantes adoram falar em inclusão social. Mas onde estão as ações propositivas neste sentido? O poder público tem a palavra.

ATÉ LOGO

Informo aos meus queridos leitores que, por razões pessoais, me afasto provisoriamente da coluna Plural. Foram 61 semanas de artigos publicados, os quais só me trouxeram alegrias e satisfação. Agradeço ao Diário de Santa Maria, que me proporcionou este espaço, e aos leitores que tanto me prestigiaram. Até logo mais.

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